
Serapicos chega com letras sarcásticas e ácidas nos 120 minutos de “17 Canções em Português Para Ouvir Antes de Morrer”
26 de setembro de 2016O primeiro disco da banda Serapicos, “17 Canções em Português Para Ouvir Antes de Morrer”, foi escrito e produzido pelo cantor e compositor Gabriel Serapicos e mistura, segundo eles, “letras filosóficas, sarcásticas, niilistas, eróticas, cinematográficas e messiânicas com blues cigano, samba boêmio, jazz swing, rock anos-60 e harmonias de voz”. Além disso, o álbum dos paulistanos foge das obras curtas e EPs que estão em alta, contando com 26 música em aproximadamente 120 minutos de música em português. Gabriel explica: “17 foi o primeiro esboço do disco e é um número primo indivisível. Conforme o processo de gravação avançou, mais músicas surgiram, porém, já estávamos apegados ao nome”. O trabalho foi produzido ao longo de 2 anos, mixado por Zeca Leme e masterizado por Arthur Joly.
Além de Gabriel Serapicos e Victória Vaz nas vozes, o Serapicos é também formado por Pedro Serapicos no baixo (“e aconselhamentos espirituais”), Matheus Souza na bateria e Caio Nazaro nas guitarras. Com influências de nomes esquizos e geniais da música brasileira como Júpiter Maçã, Rogério Skylab e André Abujamra, a banda mostra toda sua força em “Buscopan”, um dos pontos altos do disco, com uma visão sombria e dançante do universo dos jingles farmacêuticos, “Eu Escolhi Esperar”, com uma pegada oitentista, que fala sobre abstinência sexual pré-matrimônio, e “Mulher-Bomba”, um trip-hop com participação de Luiza Pereira, da Inky, na voz principal.
Conversei com Gabriel sobre a banda, o disco e suas letras em português, discos longos e o papel das redes sociais na vida de um artista independente nos últimos tempos:
– Como este projeto começou?
O projeto começou com eu gravando minhas músicas num gravador de fita cassete em 2004. Desde então, fiquei meio obcecado por esse lance de compor, escrever letra e gravar. O Pedro Serapicos, então bebê, acompanhou todo esse processo de perto. A experiência de tocar ao vivo veio mais tarde, lançando o primeiro disco, Serapicos is a town. Nesse recrutamento para formar a banda no palco conhecemos o Matheus, mais tarde a Victória e o Caio.
– De onde surgiu o nome Serapicos?
Serapicos é um nome grego de um vilarejo em Portugal. Provavelmente, alguma família grega recém-convertida fugiu de alguma perseguição religiosa para terras portuguesas em tempos medievais. Mas como disse Bruce Willis em “Pulp Fiction”: nomes não significam nada na América.
– Me conte um pouco mais sobre “17 Canções em Português Para Ouvir Antes de Morrer”. De onde surgiu a ideia de criar um disco com tantas faixas em um momento em que o single e o EP são mais valorizados que uma obra extensa?
Esse álbum é uma coleção de canções que escrevi entre o fim de 2013 e 2014. Foi o período que decidi de uma vez mudar as letras do inglês para o português. Escrevi quase todas essas músicas numa leva, embora muitas melodias já habitassem meu inconsciente ou a memória do meu celular há algum tempo. O número de músicas tomou proporções bíblicas durante o processo e resolvi lançar um álbum com 26 músicas mesmo. Não é um disco para ouvir-se numa sentada. É pra ouvir em duas sentadas. Tipo os filmes clássicos como “E O Vento Levou” e “Lawrance das Arábias” que tinham 4, 5 horas e rolava um interlúdio no intervalo. As pessoas saíam para conversar e uma banda tocava no hall. O disco é uma viagem pelos mundos personagens que habitam a minha cabeça, coloridos pelas lindas intervenções musicais da Victória, Pedro, Matheus e Caio. É um álbum cheio de assunto, de referências e provocações.
– Quais as suas principais influências musicais?
Cresci ouvindo bandas de punk rock, como Green Day e The Clash. Aos poucos fui sofisticando meu gosto para canções ouvindo The Beatles e assistindo “Noviça Rebelde”. Gosto muito de uma banda chamada The Magnetic Fields, que tem letras fenomenais. Ouvir música clássica e jazz também ampliou muito minha concepção de harmonia e forma musical. Resumindo: Tento me influenciar por tudo que ouço, pode ser a música de um comercial de absorvente ou o hino nacional da Eslováquia, pois existe beleza em tudo, já que o feio também é bonito.
– Qual a sua opinião sobre a cena independente brasileira hoje em dia?
Só consigo falar sobre a cena independente de hoje em dia já que sou bem jovem, digo não sou velho. Tenho 26 anos e isso não é velho. A cena é muito legal, tem muita gente criativa se auto-lançando e é bem interessante acompanhar o desenvolvimento de artistas que você acaba se tornando amigo.
– A internet, as redes sociais e os serviços de streaming são heróis ou vilões para a música independente?
Nem heróis, nem violões. É o que temos para hoje. Tornou-se muito mais fácil lançar-se como artista independente mas a porcentagem de grana paga por um play online é muito menor do que o que era paga pela venda de um CD.
– Porque fazer letras em português é importante?
Acho que sua língua materna sempre vem de um lugar mais primitivo, carnal, intestinal do que uma língua que você desenvolve posteriormente. Falar palavrão numa outra língua não tem o mesmo efeito emocional. E minhas letras tratam de personagens em estados muito confessionais, dizendo coisas muito intimas. As letras soam mais fortes e mais reais em português.
– Quais os próximos passos da Serapicos?
Queremos entrar no Disk MTV. Ainda rola isso? (risos). Vamos promover o álbum, fazer mais shows, lançar várias músicas ao vivo e um ou outro clipe. Já tenho dois outros discos engatilhados.
– Recomendem bandas e artistas independentes que você ouviu nos últimos tempos e chamaram sua atenção.
André Whoong é um ótimo compositor que está lançando um trabalho bem interessante. E Renato Pegasus. Guardem esse nome.
Quem é Renato Pegasus?
Obrigado