
Maneiras de xingar: Titãs – “Tudo Ao Mesmo Tempo Agora” (1991)
17 de agosto de 2017Bolachas Finas, por Victor José
Após uma trinca de álbuns lendários e obrigatórios (“Cabeça Dinossauro”, “Jesus Não Tem Dentes No País dos Banguelas” e “Õ Blesq Blom”), os Titãs estavam naquela posição que toda banda almeja: não precisavam mais mostrar o seu valor. Afinal, quem é que contestaria naquela altura do campeonato a importância daqueles oito rapazes para a música popular brasileira?
“Tudo Ao Mesmo Tempo Agora” veio em uma época em que a política do país – pra variar – estava em frangalhos. A “Era Collor”, mais precisamente. Falta de perspectiva, desemprego e aquela sensação de que todo mundo foi roubado e feito de idiota. Tudo isso deve ter feito a cabeça da banda, que não economizou na grosseria e lançou um disco bem no espírito do “foda-se”.
Bem, nem todo mundo curte esse álbum. A própria banda diz ser um dos trabalhos mais confusos, mas eu vejo de outra maneira. A época pedia isso, precisava disso. Obviamente, todos esperavam mais um trabalho coeso como “Õ Blesq Blom”, mas Titãs (naqueles tempos) não era uma banda muito adepta ao lugar comum, então nada de repetir fórmulas por conta do sucesso comercial.
Há uma coisa muito importante no disco logo de cara: Liminha não foi o produtor. Essa parceria brilhante, que rendeu a fase de ouro da banda se desfez nesse período, voltando somente no lendário “Acústico MTV”. Sendo assim o grupo arriscou na produção e gravou numa casa alugada.
Na obra há uma unidade forte. Pela primeira vez o grupo inteiro assina todas as 15 faixas. Além disso arranjaram em conjunto, frisando a força das guitarras de Toni Bellotto e Marcelo Fromer.
Eles ousaram ao lançar “Tudo Ao Mesmo Tempo Agora”, ainda mais porque ali há letras escrachadas como ”Clitóris”, “Saia de Mim” e “Isso Para Mim É Perfume”, essa última com um irreconhecível Nando Reis cantando versos como “amor, eu quero ver você cagar”… Também há aquela brincadeira com palavras, como no caso de “Obrigado”, “Uma Coisa de Cada Vez” e “Não É Por Não Falar”. Também destaco as performances de Branco Mello, que achou neste disco um tom certeiro, como pode ser conferido em “Filantrópico” e “Flat-Cemitério-Apartamento”.
A respeito do som, dá para dizer que você pode esperar uma música pesada, carregada de guitarras sujas, um rock sem muita lapidação e que combina muito bem com um dia de revolta. Sim, esse disco é pra ser escutado alto, bem alto. É uma espécie de “Titanomaquia” (seu sucessor) tosco no melhor sentido. O teor das letras chega a ser meio juvenil e jocoso.
É óbvio que a mídia caiu em cima e criticou bastante o disco, que por fim apresentou vendas modestas. Mas acho que até eles mesmos sabiam que seria assim. O que faz desse trabalho ainda mais especial.
Ainda vale a experiência de ouví-lo, justamente porque este é o último álbum com a formação clássica. Isso porque Arnaldo Antunes pularia fora em 1992, para a tristeza de muita gente que, como eu, ama os Titãs desse período.
Talvez você deteste, talvez ame, não sei. O que eu sei é que esse disco é uma obscuridade que merece uma chance. Quem teria coragem de lançar isso hoje?
Amo esse disco e acho um dos melhores senão o melhor. Guitarras soltas com riffs certeiros. Acidez e rebeldia qie o Rock tinha e nao tem mais. Bons tempos.
Rock de verdade, poemas rockados, o que for. Um dos melhores da banda. Imperdível!
Para mim, o melhor trabalho que o titas já fez.
Esse disco faz parte de uma fase de ouro da banda, na época em que o Titãs ainda era uma banda de rock sujo e pesado e estavam cagando e andando para a mídia. Ainda eles lançaram a obra-prima Titanomaquia e não podemos esquecer do excelente projeto solo do Sérgio Britto e do Branco Mello o Kleiderman, com a ótima baterista Roberta Parisi. Depois veio o Domingo que possui uma pegada mais pop mas ainda assim contém algumas músicas boas como Turnê, Brasileiro, Uns Iguais Aos Outros e Eu Não Aguento. Só que os Titãs se sentiam perdendo espaço para outras bandas e artistas de outros estilos, então optaram pelo caminho fácil de músicas feitas sob encomendas para rádios rock da vida(que não tocam rock de verdade, apenas música brega) e para trilhas sonoras de novelas. Pra mim o fundo do poço não foi “As Dez Mais” lançada no distante ano de 1999 e sim o Sacos Plásticos um álbum nitidamente tocado de má vontade e com músicas horrendas feitas por uma banda picareta e já sem garra. Hoje o Titãs é um cadáver ambulante tocando por tocar e sem nenhum tesão pela música, apenas pelo $$$$$ dinheiro. Se a banda tivesse terminado no Domingo e seus integrantes caído no ostracismo total teria sido muito melhor para a memória grandiosa da banda dos tempos áureos e não se tornado uma bandinha comercial e medíocre apenas preocupada em vender discos. O Acústico MTV acabou com a sonoridade clássica dos Titãs. Ainda se eles tivessem apenas lançado o Acústico mesmo pensando no retorno $$$$$ mas depois voltassem para sua sonoridade clássica tudo bem, porém a banda pegou gosto mesmo pelo caminho fácil da música palatável feita para as massas sem senso crítico. Ainda lançaram o horrendo Volume Dois e o desprezível e asqueroso As Dez Mais.
Ótimo álbum, rock de verdade. Realmente as letras são bem diferentes dos demais, mas, como dito na crônica, trata-se de “um trabalho especial” .